Putin grato pelos esforços de Pequim para resolver a crise na Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
Sergey Bobylev - EPA

O presidente russo, Vladimir Putin, agradeceu ao seu homólogo chinês, Xi Jinping, o papel desempenhado pela China na tentativa de resolver a crise na Ucrânia.

Putin acrescentou que iria informar o líder chinês sobre a situação na Ucrânia, onde as forças russas estão a avançar em várias frentes e que o seu país "está grato pela iniciativa dos colegas e amigos chineses para resolver a situação".

Segundo o presidente chinês, os dois países concordam que uma solução apolítica para a crise na Ucrânia é a "direção certa".

O líder chinês explicou que a posição da China sobre a guerra na Ucrânia, criticada no Ocidente pela sua ambiguidade, é "consistente e clara".


O gigante asiático, que não condenou a invasão, negou repetidamente nos últimos meses ter laços militares com a Rússia, mas apelou à realização de uma conferência "reconhecida por todas as partes" para retomar o diálogo.

“A China espera que a Europa regresse rapidamente à paz e à estabilidade e vai continuar a desempenhar um papel construtivo nesse sentido", apontou Xi que considera que Pequim e Moscovo estão a aprofundar as relações como "bons vizinhos, bons amigos, bons parceiros".

Putin chegou esta quinta-feira para uma visita de Estado de dois dias que incluirá conversações detalhadas sobre a Ucrânia, Ásia, energia e comércio com Xi, o seu mais poderoso apoiante político e rival geopolítico dos Estados Unidos.
Numa aparição conjunta em Pequim, os dois líderes assinaram documentos sobre o aprofundamento da cooperação mútua entre os dois países.

Ao escolher a China para a sua primeira viagem ao estrangeiro desde que foi empossado este mês para um mandato de seis anos que o manterá no poder, Putin está a enviar uma mensagem ao mundo sobre as suas prioridades e a força dos seus laços pessoais com Xi.

China e Rússia declararam uma parceria "sem limites" em fevereiro de 2022, quando Putin visitou Pequim poucos dias antes de enviar dezenas de milhares de tropas na Ucrânia, desencadeando a guerra terrestre mais mortal na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Em cima da mesa, na reunião de Putin e XI não esteve apenas o conflito na Ucrânia. A situação no Médio Oriente também foi debatida, com os dois líderes a defenderem uma “solução de dois Estados” e a considerarem que é “extremamente urgente” encontrar uma solução para a Palestina.

Xi Jinping apelou, em nome dos dois líderes, à "aplicação das resoluções das Nações Unidas" relativamente ao conflito.Reforço de laçosPara o presidente russo, a cooperação com Xi Jinping é um fator de estabilização, sublinhando os sectores em que os dois países estão a reforçar os laços, desde a cooperação nuclear e energética até ao fornecimento de alimentos e ao fabrico de automóveis chineses na Rússia.

Já Xi Jinping prometeu trabalhar com o seu homólogo Vladimir Putin para "rejuvenescer" os dois países, frisando que a China será "sempre um bom parceiro" da Rússia, segundo a imprensa estatal chinesa.

No encontro, que decorreu no Grande Salão do Povo de Pequim, Xi afirmou a Putin que "a relação entre a China e a Rússia é hoje uma relação que se conquistou com muito esforço, e as duas partes têm de a acarinhar e cultivar".

"A China está disposta a alcançar conjuntamente o desenvolvimento e o rejuvenescimento dos nossos respetivos países, e trabalhar em conjunto para defender a equidade e a justiça no mundo”.

Por seu lado, Putin afirmou que as relações Rússia - China "não são dirigidas contra ninguém”. “A nossa cooperação nos assuntos mundiais é hoje um dos principais fatores de estabilização do cenário internacional", realçou.75 anos de relações Putin, 71 anos, e Xi, 70 anos, vão participar numa celebração que assinala os 75 anos desde que a União Soviética reconheceu a República Popular da China, declarada por Mao Zedong em 1949.

Os Estados Unidos consideram a China como o seu maior concorrente e a Rússia como a sua maior ameaça nacional, enquanto o presidente Joe Biden afirma que este século será definido por uma disputa existencial entre democracias e autocracias.

Putin e Xi que partilham uma ampla visão do mundo, consideram que o Ocidente está em declínio, com a China a desafiar a supremacia dos EUA em tudo, desde a computação quântica e a biologia sintética à espionagem e ao poder militar.Putin visitará também a cidade de Harbin, no nordeste do país, que tem laços históricos com a Rússia. Um centro comercial dedicado a produtos russos de cerca de 80 fabricantes russos foi inaugurado na quinta-feira, avançou o China Daily.

A China reforçou os laços comerciais e militares com a Rússia nos últimos anos, à medida que os Estados Unidos e os seus aliados impuseram sanções a ambos os países, particularmente a Moscovo, pela sua invasão da Ucrânia.

Os governos ocidentais dizem que a China tem desempenhado um papel crucial em ajudar a Rússia a resistir às sanções e tem fornecido tecnologia chave que a Rússia tem usado no campo de batalha na Ucrânia.

Mas a China, outrora o parceiro júnior de Moscovo na hierarquia comunista global, é de longe o mais poderoso dos amigos da Rússia a nível mundial.


A chegada de Putin segue-se a uma missão a Pequim no final do mês passado pelo secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, em parte para avisar o principal diplomata da China, Wang Yi, contra o crescente apoio militar à Rússia.

c/ agências
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